“I know not what tomorrow will bring”

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Ele não sabia. E eu também não sei.

Sou eu, sou eu – eu! que estou aqui…! Como podes não… sentir… o que isso significa, no teu mundo, no meu – no nosso mundo? Tu. Eu. Nós……………………?

Se, folgado, nada me dizes agora – a mim -, presa, que tudo daria por uma palavra tua, daquelas que, eu sei bem, tu sentes, e bastaria para que a tua voz aniquilasse aquilo que eu sinto, é porque amanhã… demain… tomorrow…  won’t bring nothing that make me give a shit about anything.

C’est tout.

Agnes Rubra

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Le Bonheur Réside Dans la Possession du Bien…?

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Nada me dá alento para fazer aquilo que estou mesmo a fazer. Não acredito nesta obra, tenho a certeza que é maldita.

Eu participo mas estou inocente. Se o faço é por Amor a quem crê que quer mesmo isto. Pudesse eu dissuadi-lo! Mas, se tentar fazê-lo, ele zanga-se comigo. Bem sei, é tolo temer um tal argumento. Mas temo perder tudo, perder o Amigo! Isso, não posso! E o Amor redime, e também transpira e inspira, creio, espero. Mas será que salva dois…? ele e eu? Ou só a inocência vale?

O engano, o malogro d’ele… poderá resgatá-lo, quando se descobrir desproporcionado, errado? De nada me vale ficar sozinha com a razão.

La licorne mordorée dois être toujours absolument indéniable… et sans merci?

Eu não sei. Penso uma coisa e sinto outra.

I know not what tomorrow will be. Talvez seja merecido…

Agnes Rubra

Clair-obscur, Je n’aime rien tant que la blessure

É noite. Estou sozinha e sinto-me estranha, não por falta de uma boa companhia, que o sou para mim mesma, mas por algum outro motivo que não identifico. É tudo tão… estranho. O cão está irrequieto. Percorre as dependencias da casa, ladra sem motivo, vem espreitar-me, afasta-se um pouco, descoroçoado. Já por duas vezes foi até ao terraço e uivou. Eu gosto do som, lembra-me os lobos, mas não gosto que ele se sinta triste.

Agora apareceu-me aqui com uma maçã. Está a roê-la e a mirar-me com ar de desafio mas eu não me importo que ele roube uma maçã. Acho-lhe graça e sorrio. Ele conhece muito bem a expressão, evidentemente, e parece contrariado por eu não ter ficado aborrecida. Faço-lhe uma festa rápida nas orelhas macias, digo-lhe umas palavras meigas. Ele abandonou a maçã e retomou as corridas irrequietas pela casa.

Estou a escrever na penumbra, há apenas o pequeno candeeiro de abat-jour cinzento.

Atrás de mim, literalmente – pois começa nos calcanhares, passa nos ombros, na nuca e sobe até ao alto da minha cabeça -, é como se estivesse sol, um sol luminoso, mas se me volto, vejo o que é suposto que lá esteja… e a penúmbra. Assim que me endireito, para a luz fraca que escolhi para iluminar o meu serão de escrita e leitura, volta a sensação de que atrás de mim há uma vastidão de luz que começa, ou termina, nos meus calcanhares e se estende para cima e para longe, por detrás de mim. Como se a casa se tivesse partido e eu aqui restasse de costas para a zona de rompimento, a quebra.

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O cão ganiu baixinho. Eu voltei a sorrir.

Será que devia atirar-lhe uma coisa qualquer, brincar com ele ao busca, tentar entrar na luz imensa com a ajuda desta criatura de Deus, tão pura?

Agnes Rubra

I’m Nobody’s Baby Now

A wanderer I am. Não importa o tecto, não importa o pão, tenho de caminhar, correr fado, seja lá o que for – e eu não sei o que é -, mas não posso ficar quieta nos meus pés doridos. Tenho de caminhar, caminhar sempre. O meu andar errático magoa e é o meu maior bem, pois esse faz-me ser EU. E eu gosto de mim I don’t know why, I don’t know how, mas gosto.

Há pouco perdi-me num terraço, em plena cidade, mas era como se houvesse um portal e eu nem sei se me escapei ou se fui sugada para o espaço imenso do mundo que é a noite. De repente eu era uma ave nocturna e voei tão longe, tão longe… que fui lá, onde tu estás – no impossível! -, mas o impossível fez-se, no ardor das minhas asas, e eu estive nos socalcos contigo. Não havia palavras nem olhos nos olhos mas sabias que eu estava ali, sabias.

Adormeceste envolto nas minhas penas, suavemente, acalentado pelo meu choro doce e aliviado e calmo. Choro sempre assim, redimida. Mas isso, tu não sabes, nunca sabes. Que pena!

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Agnes Rubra

Les Larmes de Joie

I'm Fine

Não. A alegria não faz correr lágrimas, nenhumas lágrimas. Se comovido por alguma coisa profundamente boa ficares com os olhos marejados, não chames alegria a esse sentimento, que a alegria não é funda, é saliente. E se te torceres num riso incontrolável, até sentires as olheiras inundadas de água morna, a transbordar, não chames lágrimas a esse líquido, que as lágrimas são indeléveis e tu, daí a nada, terás esquecido o que te fez rir.

Não é por acaso que a canção se chama Cry Me a River. Há sempre um rio sereno e triste dentro de nós, que o vamos chorando ao longo da vida, quando estamos tristes. Se, por desespero, o chorarmos de uma vez só… hélasmeu amor, daí em diante não mais seremos capazes de chorar. Tu, consegues…? Eu sim, tu le sais.

Agnes Rubra

A Deep Sigh

Outra vez do lado de dentro. Aqui estou, Agnes. Quando eu sou tu torno-mete verdadeiramente Rubra. É obsceno ser duas. Ser quem chamo de eu (e na realidade é a ti que chamo eu) é apenas selvagem.

Foi a solidão que me fez cair tão fundo em mim, a ponto de te encontrar, e a surpresa do teu rosto expondo todas as expressões que o espelho jamais me revelou foi o bálsamo reparador das feridas abertas durante a queda.

Sabes, existem venenos inocentes. Estranhas palavras, certas.

Agnes Rubra

Tempête en mer de larmes

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Viver o sono e o sonho é conhecer-me. No profundo é que estou inteira, mergulhada, rodopiando em loucas ideias parecidas com gestos desabridos. Sinceros.

Como estranhei sonhar contigo e, de repente, saber tão bem quem és, há tanto tempo! Muito antes de todo este mar revolto e das volutas desabridas em que rasgo as ondas, livre, já eu era presa em ti, era tão tua, que me não largavas, nunca…

Por que será que esqueço tudo assim que acordo?

Agnes Rubra

Chorale

Nunca saberás as minhas lágrimas. Nunca soubeste. Vês-me um ser ligeiro e leve, sorridente, um pouco doido, e é como se o peso que se esconde no olhar que subitamente baixo não existisse, como se não fosse verdadeiro pesar. Porém, é.

Há nessa tristeza oculta um baixo contínuo que só eu sei e ouço. E gosto tanto. Mesmo que seja mágoa de água, um ribeiro subterrâneo a caminho de uma foz longínqua que podia estar mesmo ali – e sei que está! – mas tornada inatingível pelo obstáculo súbito de um não querer ou não ser capaz de ver. E estás mesmo ali. Aqui. Se estivesses numa linha do horizonte serias igualmente inalcançável. Fica muito longe, mesmo em ti.

Agnes Rubra

Wanderer

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Voltei. Sim, porque estive num longe geograficamente distante, muito diferente daqueles outros, mais fundos, a que tantas vezes me entrego sem me mexer daqui. Ocupada numa espécie de rodopio frenético que faz parte dos costumes de toda a gente. Não pude escapar-me.

É sempre estranho, ir. Parece que me vejo de fora, a fazer coisas de que não gosto sem desgostar completamente, quase cheia de uma complacência divertida, quase intrinsecamente divertida! Fica um sorriso interior, verdadeiro, mas muito para lá de algo que eu possa agarrar e fazer meu, porque não é o meu nem o quero.

A minha alma expande-se por horizontes diferentes e parece que se solta. Porém, volta contente à paz do seu tugúrio negro, o poço sem fundo que eu sou, onde os vulcões abrasadores explodem e desaguam as lavas e os rios, trazendo tanto de tudo. Podridão, vida; princípio e fim. Destroços a rebentar contra as minhas resistências que se opõem à força bruta. E deixo-me estar, quieta, porque não vale a pena lutar. Permaneci inteira. Sou forte e convicta. Una. Por isso me ajusto à mudança; por isso volto igual.

E verifico com a maior naturalidade que as férias são muito mais fáceis no final do que no princípio. Estou novamente como gosto. Entregue a mim, independente de fantasias alheias e longe de preceitos que sejam meus desconhecidos.

Agnes Rubra